sábado, 11 de junho de 2011

Seguro avança e quer evitar que a direita “apodreça” no poder


A sala cheia de militantes, na apresentação da candidatura de António José Seguro, contrastava com a forma solitária como Francisco Assis tinha apresentado um dia antes, também na sede nacional do PS, a candidatura à liderança. Talvez para marcar a diferença, Seguro convocou os seus apoiantes para dizer que, se for eleito, irá apresentar uma alternativa para derrotar o PSD nas urnas daqui a quatro anos. “Comigo não contem para ficar à espera que o próximo governo apodreça para tomar o seu lugar”, disse Seguro, numa sala repleta de socialistas, mas na qual não havia muitas caras conhecidas, os pesos pesados do PS.

Num discurso com mais de 30 minutos, António José Seguro deixou claro que quer ser o candidato do PS a primeiro-ministro, mas admitiu que ouviu dos seus apoiantes o alerta de que há grandes probabilidades do próximo secretário-geral ser um líder de transição. “Alguns, em minha defesa pessoal, tentaram convencer-me para não me candidatar, dizendo que quem vem agora é para queimar, que era melhor deixar ir outro e para me guardar para mais tarde. Não concordo. Este é o tempo certo para quem está na política com convicções e por causas”, disse o candidato à liderança dos socialistas, que durante os últimos anos se manteve reservado, mas sempre à distância dos governos de Sócrates.

No lançamento da candidatura, Seguro preferiu falar do futuro e ignorar os últimos seis anos do PS no governo: “Sobre o passado só tenho uma palavra em relação àqueles que ocuparam cargos de responsabilidade: obrigado”.

Para a frente, o ex-líder da Juventude Socialista pretende, se for eleito, tornar o PS mais dialogante e preconizou um partido “vivido por todos os participantes e simpatizantes”. Conotado com uma ala mais à esquerda do PS, Seguro referiu-se várias vezes à importância de ser fiel à matriz ideológica do partido e apresentou um PS mais próximo dos mais desfavorecidos e do “acesso universal à saúde, à educação e à justiça”. O candidato terminou o discurso com um apelo à “alma quente” dos apoiantes a quem pediu para “darem o seu melhor”.

Assis líder parlamentar? João Soares foi um dos dirigentes do PS que se deslocou ao Largo do Rato para apoiar Seguro e, em declarações ao i, defendeu que “ele representa o melhor protagonista possível neste novo ciclo”. Soares pensa que o candidato consegue reunir “juventude e experiência”, recordando que António José Seguro foi ministro de António Guterres. Quanto a Francisco Assis, o ex-autarca de Lisboa defende que pode voltar a ser um grande líder parlamentar do PS. “Não vejo aqui, aliás, as linhas de fractura. A não ser alguma má vontade que haja quanto a esta candidatura”, acrescenta João Soares.

Desde que as duas candidaturas foram formalizadas, os socialistas começaram de imediato a posicionar-se, com alguns dirigentes próximos de José Sócrates a declararem o seu apoio a Francisco Assis. José Lello, Capoulas Santos e Edite Estrela estão ao lado do ex-líder parlamentar. “Julgo que, nesta conjuntura, é o melhor para o PS e para o país”, disse ao i a eurodeputada socialista.

Mas no aparelho, é Seguro que domina. Nos dois últimos dias, a maioria das federações socialistas já declarou apoio público ao antigo líder da JS. Apenas cinco, das 20 existentes, estão com Assis. Mas há quem prefira guardar uma decisão para mais tarde. É o caso de Manuel Alegre. “Eu, para já, não me quero pronunciar. Falem primeiro os mais novos”, disse ao i o histórico socialista. Maria de Belém e Vitalino Canas são outros dos socialistas que estão a avaliar qual dos candidatos merecerá o seu apoio. “Há aqui um empate”, diz ao i Canas, que considera decisiva a forma como os candidatos se vão posicionar em relação aos últimos anos dos governos socialistas. Já Mário Soares, fundador do partido, esclareceu que não apoiará nenhum candidato nesta eleição. “Só apoio o PS no seu conjunto”, disse.

O que muitos dirigentes socialistas não disfarçam é que preferiam António Costa para liderar o partido nos próximos anos, mas, como disse Almeida Santos, “paciência”. “Vamos ter de nos governar com o que vamos ter”.

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